Depois de dois ministros que entendem quase nada de Educação. Um texto de quem conhece

09/01/2020

Em recente declaração a um grupo da imprensa e apoiadores políticos Jair Bolsonaro declarou que "o Pedro II acabou". O que isto representa exatamente? Como esta declaração se encaixa no conjunto de medidas do Estado brasileiro, no governo de Bolsonaro, no que diz respeito à educação. Vejamos.
Durante sua campanha à presidência da república Bolsonaro não apresentou um projeto concreto para a educação brasileira. Resumiu-se a criticar a qualidade da educação pública atual, a elogiar as escolas militares e declarar que a esquerda desvirtuava a escola com uma orientação imoral e material pornográfico. Uma educação que seria baseada na ideologia de gêneros (reconheço que apesar de trinta anos em sala de aula, não sei exatamente o que é isso) e com "viés ideológico". Atacou as propostas pedagógicas de Paulo Freire, ainda que em nenhum momento Bolsonaro tenha apontado em que pontos diverge do professor pernambucano aclamado no mundo inteiro. Em seu governo dois ministros da educação, Ricardo Velez e Abraham Weintraub, pouco ou nada avançaram no estabelecimento de um projeto de valorização da qualidade da educação brasileira. Velez declarou que os brasileiros roubam objetos de aviões quando viajam e Weintraub resumiu-se a agredir as universidades públicas acusando alunos e professores de promoverem orgias nas salas de aula e plantarem maconha em seus campi.
O Colégio Pedro II é uma instituição de excelência na educação pública brasileira. Com um processo rigoroso de seleção para ingresso de alunos e professores o colégio prima por uma qualidade pedagógica e resultados que superam em muito a média nacional. Porém, apesar do desempenho acima da média os alunos convivem em um ambiente de ampla liberdade política e de expressão. As regras de comportamento são discutidas com toda a comunidade escolar e estabelecidas a partir do debate e da argumentação. Alunos, responsáveis, funcionários e professores participam efetivamente da administração das unidades. Nada possui uma postura impositiva, do calendário à estratégia pedagógica.
Este ambiente no colégio Pedro II favorece a formação de uma consciência e uma postura crítica e questionadora. Ideal para formar não só profissionais mas, também cidadãos conscientes e participativos na construção de uma sociedade justa e igualitária.
E por que um projeto de tanto sucesso é criticado por Jair Bolsonaro? Justamente porque o sucesso do colégio Pedro II prova que a proposta de uma escola que uniformiza a forma de pensar, inibe a formação da consciência crítica e desestimula a participação política é absolutamente equivocada.
Bolsonaro defende uma escola castradora, baseada em uma disciplina rígida que pune a individualidade e a independência. Defende uma escola onde a hierarquia e a uniformidade é mais importante do que o ato de aprender a pensar e a criatividade. Uma escola que cultua a "mãe pátria", seus "ídolos" e símbolos. Onde a construção da nação reside na manutenção da ordem. A escola dos uniformes bem passados, dos sapatos que brilham e dos cabelos bem cortados ou presos. Uma escola cinza, sem cor, sem alegria. Não é esta escola que eu quero!
Eu quero o Pedro II. Eu quero a escola onde os alunos estudam mas, também flertam no recreio. Onde se pesquisa e se constrói conhecimento mas, também se toca violão no pátio. Onde se é responsável mas, também se sorri e se brinca. Onde se espera o professor na segunda-feira para "zoar" a derrota no futebol! Eu quero a sala de aula onde se presta atenção mas, também se conversa e se faz bagunça. Eu quero uma escola onde se faz prova e também se joga bola e se brinca de pique. Eu quero uma escola onde se cumpre as regras mas, também se discute idéias e pensamento. Onde todas as disciplinas são valorizadas. A escola onde se canta, se dança, pinta-se e se pinta, onde se interpreta Shakespeare e Plínio Marcos. Onde se ouve Johann Sebastian Bach, Zeca Pagodinho e Anita.
Eu não preciso de um quartel disfarçado de unidade escolar, eu quero crianças e adolescentes que não são mini soldados. Na escola se forma alunos e acima de tudo, seres humanos e não autômatos que se resumem a dizer "sim senhor" e "não senhor".
O Pedro II é a nossa ilha de excelência e de resistência. De resistência à mediocridade, à estupidez e ao obscurantismo. Uma resistência ao ódio e ao preconceito. Uma resistência à violência e ao autoritarismo. O Pedro II é a escola da fuzarca !!!!!

Texto de nosso colaborador.  Professor Marcos Rodrigues-RJ