Artigo Especial

24/12/2019

Eu erro, tu erras, ele erra. Paremos por aqui. Quando eu erro, é um problema meu. O meu erro prejudica a mim e a quem mais estiver envolvido na situação. Ponto. Quando tu erras, é um problema teu, e de quem tu feriste. Mas quando o presidente da República erra, ele atinge a todos nós. E desde 1 de janeiro de 2019 ele erra compulsivamente, sem que as críticas às suas falhas sejam proporcionais aos estragos cometidos.

Ontem, depois de cometer o crime de homofobia explícita, quebrar o decoro, agredir à nação com suas palavras baixas, Bolsonaro recebeu uma saraivada à altura da sua estupidez. Hoje, pela manhã, colunistas costumeiramente condescendentes com suas estultices voltaram-se contra o seu destempero, (vamos chamar assim, só para manter o nível).

Porém, bastou aparecer com ar compungido, dizendo: "eu errei", trajando a camisa do Flamengo (um azar danado para o time), num café da manhã com os jornalistas plantonistas do Planalto, para que o tom do lado ofendido mudasse. Lá se foram os comentaristas concordar que "a situação é grave", que ele "se destemperou porque foi atingido na família", que "de fato, é para tirar qualquer um do sério" ... Francamente...

Depois de serem enxovalhados ao vivo, numa cena grotesca vista por todo o país e quem mais estivesse ligado na TV mundo afora, passar o pano e dizer que táoquei! Ninguém aqui está pedindo que lancem mão da autorização para portar armas, e apontá-las para Bolsonaro, o autor da medida, mas apoiar as desculpas tão rapidamente ficou feio. Ainda mais que o destempero do "papai", é recibo de que alguma coisa muito grave o preocupa, e não é só o aumento repentino de vendas de bombons na loja do Flávio. Em vez de passar o pano, que tal aprofundar as investigações?

Foram muito oportunas as notas das diversas instituições representantes dos jornalistas, em protesto contra as agressões. Porém, é preciso que fique muito claro para este senhor que por ora ocupa a cadeira da presidência, que os profissionais de qualquer categoria merecem respeito. Ainda mais os que têm como ofício acompanhá-lo de perto e aos seus desvarios. Uma tarefa tão hercúlea quanto indigesta. Daí não cair muito bem, para os da "categoria", aceitar sem nenhum reparo, e tão rapidamente, as desculpas às agressões sofridas por esses profissionais.

Táoquei, os coleguinhas comentaristas daquele canal que nunca dorme, podem até serem condescendentes. Resta saber, no entanto, quando passarem as festas - sim, temos um carnaval no final de fevereiro, para adiar a indignação - se o povo que a cada dia só faz aumentar o percentual de rejeição, a este senhor, vai ter o mesmo nível de compreensão com este crescer de cinismo, de falso arrependimento, e esse desfilar de malfeitos mal explicados, que rondam o palácio e a vida do clã.

Não adianta festejar e jogar confetes nessa "bolha" de crescimento pífio, à base de contratos escravizantes dos nossos trabalhadores, ou contabilizar como novo posto de trabalho mais uma carrocinha de comércio de quentinha estacionada na esquina. Tampouco a mídia conivente puxar como manchete as diabruras do ministro Paulo Guedes, a fim de tirar o foco de cima dos "zeros". A lama, ou melhor, o mar de chocolate que inunda o lago das carpas transbordará de toda forma. Todas essas questões acabarão como manchete. Forçosamente. E aí, segurem o seu Jair.

Por Denise Assis, para o Jornalistas pela Democracia