ECONOMIA - O IPCA, indicador oficial de alta de preços no país, aponta que tubérculos, raízes e legumes tiveram a maior alta acumulada até o momento

25/03/2024

A inflação que incide sobre o preço dos alimentos nos primeiros dois meses de 2024 já atingiu o dobro do índice geral, representando um aumento real no preço dos produtos. Situação que tem preocupado o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Segundo o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA,) calculado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o grupo "Alimentação e Bebidas" acumula alta de 2,34% neste ano. No recorte mensal, o preço dos alimentos têm uma variação positiva desde outubro de 2023, quando o IPCA registrou 0,31%. Porém, nos últimos cinco meses, o crescimento mais acentuado foi em janeiro, quando o índice subiu para 1,38%. Tanto especialistas, quanto o próprio governo federal apontam como fatores decisivos para essas altas uma sazonalidade dos produtos e eventos climáticos extremos que atingiram o país no período. Na quinta-feira passada (21/3), o ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro, voltou a se reunir com Lula, dessa vez em uma confraternização com cerca de 60 fruticultores na Granja do Torto, em Brasília. O titular do Mapa disse não ter "bola de cristal" para saber quando os preços começarão a baixar, mas ressaltou que os índices já estariam melhorando. "A previsão da área econômica é de deflação no preço dos alimentos neste primeiro semestre", afirmou Fávaro. O otimismo para uma redução ainda no primeiro semestre é compartilhado por especialistas ouvidos pela reportagem. O coordenador dos índices de preços do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV-Ibre), André Braz, reforçou que o momento de alta nos alimentos está muito concentrado nos in natura (produtos de sacolão), que tradicionalmente estão em um momento de variação positiva no verão, potencializados pelo efeito do El Ninõ, que provocou elevação nas temperaturas e volumes de chuva. "Isso tudo fez com que os alimentos in natura apresentassem uma alta ainda maior em seus preços. A pressão inflacionária foi grande em raízes, tubérculos, hortaliças, legumes e frutas, tudo ficando mais caro. Essa concentração de reajustes em torno desses itens fez com que a inflação dos alimentos subisse bastante, mas a boa notícia é que isso é um efeito sazonal. Não vai durar muito tempo. A aproximação do outono já deve colocar fim nessa pressão", explica. O IPCA aponta que tubérculos, raízes e legumes tiveram a maior alta acumulada até o momento, com os preços variando positivamente em 16%. Em janeiro, o índice subiu em 11,14%, enquanto em fevereiro a variação foi de 4,36%. Segundo André Braz, boa parte da inflação será "devolvida" em meses de clima mais a menos, uma vez que a oferta desses alimentos deve ser recomposta com rapidez. Isso ocorre por se tratar de produtos com lavouras curtas. A expectativa do economista é que a queda seja acentuada no segundo semestre. Tomando 2023 como exemplo, os preços tiveram uma queda acentuada entre junho, de 0,66% negativo, e setembro, de 0,71% negativo. Durante o período, a inflação acumulada no ano no grupo "Alimentos e Bebidas" registrou deflação de 1,02%. Porém, em março o índice já apresentava estabilidade de +0,05%. O entressafras nos produtos in natura também é apontado por especialistas como um dos motivos da alta acentuada nos preços. Consultor econômico do Instituto de Pesquisas Econômicas, Administrativas e Contábeis de MG (Ipead), entidade ligada à Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Diogo Santos explica que é comum o aumento nos alimentos da metade para o fim do verão. O economista também reforça que as questões climáticas prejudicaram a oferta de mercadorias nas Centrais de Abastecimento (Ceasa) e, principalmente nos sacolões. "Se chega menos, o produtor tem a possibilidade de cobrar mais, e o comerciante também, porque as pessoas querem comprar na mesma quantidade. A demanda não mudou, então o preço acaba sendo pressionado para cima", explica.