Ganhadora do leilão da Refinaria Landulpho Alves não tem condições logísticas de abastecer navios no porto de Salvador, mas exporta a todo vapor.

10/02/2022

Um processo atabalhoado, que já vem causando transtornos e prejuízos ao pais. Desde a privatização da Rlam (Refinaria Landulpho Alves), em São Francisco do Conde (BA), parou de abastecer navios que passam pelo Porto de Salvador. Durante a gestão da Petrobras, cerca de 40 embarcações aproveitavam a parada ali para abastecer seus tanques, com o combustível necessário para elas, que era vendido pela Petrobras e sua subsidiária Transpetro. O combustível foi produzido na Rlam, que passou a se chamar Refinaria de Mataripe depois que foi privatizada. Seguia por dutos até o Terminal de Madre de Deus (Temadre), o maior terminal aquaviário do Nordeste. Então, era posto em barcaças que o transfere já no mar para embarcações paradas na Baía de Todos os Santos. No entanto, desde a privatização, quando a Rlam passou a pertencer ao fundo de investimento árabe Mudabala Capital, toda produção passou a ser exportada. Carlos Augusto Muller, presidente do Sindicato Nacional dos Oficiais da Marinha Mercante (Sindmar), que representa os trabalhadores de navios comerciais, afirma "Não há óleo combustível disponível no Porto de Salvador desde que a Acelen assumiu a refinaria. Um navio tem que programar a ida a outro porto para abastecer". De acordo com a Acelen, empresa que comprovou a refinaria, "os ativos logísticos necessários para a comercialização do Bunker Oil [óleo combustível] ao mercado local não fizeram parte da compra da refinaria", justificou. A justificativa é contestada por funcionários da Petrobras que permanecem na empresa, e por razões óbvias terão suas identidades mantidas em sigilo. Eles afirmam que a falta de abastecimento de navios é consequência de uma decisão da empresa. "Houve desabastecimento de navios porque o produto [óleo combustível] foi destinado para exportação", afirmou Deyvid Bacelar, coordenador geral da Frente Única dos Petroleiros (FUP) e diretor do Sindicato dos Petroleiros da Bahia (Sindipetro-BA). Um trabalhador do Temadre que prefere não ser identificado, disse que a Acelen tem feito exportações frequentes de óleo combustível. "É a primeira vez que vejo ser falado de várias cargas, todas com quantidades enormes de óleo combustível para exportação, para um mesmo comprador", relatou. Essa nova dinâmica foi confirmada por Muller, do Sindmar. "A refinaria não deixou de produzir o óleo e tem ocorrido embarques deste produto em direção ao exterior, ele só não é disponibilizado internamente". A venda da Rlam por 1,65 bilhão é contestada pela FUP. Segundo avaliações do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis Zé Eduardo Dutra (Ineep), ligado à federação, a refinaria valia pelo menos o dobro disso. O mesmo parece estar ocorrendo com a Eletrobras, no que analistas já estão chamando de "Black Friday" do setor público. Das 13 refinarias que a Petrobras tinha, oito foram postas à venda nesse programa de desinvestimentos da Petrobras. A Rlam foi a primeira cuja administração já foi transferida da estatal à iniciativa privada. E já começou a forçar alta de preços no mercado interno. "No final das contas, o trigo que será usado para a farinha do pãozinho acaba tendo um custo maior por causa da falta de combustível no porto" .Mas a Acelen não está preocupada com isso. Quer lucro. Além do preço de banana, o governo entregou a refinaria a uma empresa que não possui estrutura logística, o que parece uma falha do edital.