GOLPE MILITAR - Juizforano foi um dos primeiros presos políticos do golpe

01/04/2024
Foto Arquivo/ Acervo Maria do Resguardo/Reprodução
Foto Arquivo/ Acervo Maria do Resguardo/Reprodução

O golpe militar de 1964, completa 60 anos, deixando um rastro de centenas de famílias vítimas de torturas e assassinatos por quase 21 anos. Entre as famílias enlutadas está a de Marita Pimentel França Teixeira. Seu esposo Misael Cardoso Teixeira, ex-diretor dos Correios em Juiz de Fora, foi um dos primeiros presos políticos do período detido dias antes do 31 de março, quando as tropas do general Olympio Mourão Filho saíram da cidade mineira para o Rio de Janeiro, onde participaram da deposição do presidente João Goulart. Segundo documentos da Comissão Municipal da Verdade de Juiz de Fora, Misael Cardoso Teixeira foi detido durante a operação 'Silêncio', que tinha o intuito de controlar os veículos de comunicação e facilitar o diálogo entre os militares. Um dos locais ocupados pela ação foi a sede do Departamento dos Correios e Telégrafos da cidade, do qual Misael era diretor. Marita que a epoca era telegrafista, foi uma das primeiras a depor na CMV-JF (Comissão Municipal da Verdade), criada em 2012 para apurar casos de graves violações contra os direitos humanos em Juiz de Fora. Marita Teixeira contou como o marido dela foi preso e todo o desenrolar da triste história que terminou com a morte de Misael. Segundo depoimento de Marita Pimentel, ela, o marido e os dois filhos tinham recém chegado de uma viagem e estavam em casa, que ficava em cima da sede dos Correios, quando foram surpreendidos pelos militares. A data especificamente não foi citada, mas era durante a Semana Santa de 1964. "[...] Entraram dois homens de repente, foram prendendo ele sem mais explicar, sem mais, sem nada [...] Levaram sem dizer uma palavra, levaram algemado", disse a ex-telegrafista, que faleceu anos depois. Após Misael Cardoso ser levado, Marita e os filhos foram mantidos reféns dentro do imóvel, com um soldado na porta. Eles ficaram presos, sem água e energia elétrica por 10 dias até serem liberado e ela entender que o país estava no meio de um golpe militar. Marita procurou incansavelmente pelo marido, até que descobriu que muitos presos estavam sendo levados para Lagoa Santa. Com os dois filhos pequenos, pegou um ônibus até Belo Horizonte. Já na capital mineira, sem dinheiro, ela conseguiu carona em uma ambulância, e chegou até a base aérea da cidade. Em depoimento, Marita contou que mal reconheceu o companheiro. Misael ficou preso por 4 meses e depois foi transferido para o batalhão de infantaria em Juiz de Fora, onde ficou por mais um mês. Marita disse que o marido começou a apresentar transtornos mentais sérios, que ela acreditava ser o resultado das torturas física e psicológica que o marido sofreu na prisão. Ele morreu aos 42 anos, em uma instituição psiquiátrica. Assim como o depoimento de Marita Pimentel, existem muitos outros. Todos eles podem ser lidos em relatório final produzido pela Comissão Municipal de Verdade de Juiz de Fora. Vergonhosamente parlamentares como o ex vice-presidente Hamilton Mourão, ainda escrevem. "A história não se apaga e nem se reescreve, em 31 de março de 1964 a Nação se salvou a si mesma!". Essa certamente era a mesma visão ideológica da intentona do 08 de janeiro.