MENTIRA TEM PERNAS CURTAS

10/06/2019

Por Florestan Fernandes Júnior é jornalista, escritor e integrante do Jornalistas pela Democracia


Foto Divulgação/Blog por Simas
Foto Divulgação/Blog por Simas

A nova safra de políticos que chegou ao poder no Brasil revela que a mentira tem mesmo perna curta. O governador do Rio, por exemplo, mentiu ao informar em seu Lattes que parte de seu curso de doutorado na Universidade Federal Fluminense (UFF) foi realizado na prestigiada universidade de Harvard, nos EUA. Na realidade, Wilson Witzel nem chegou a fazer inscrição para o doutorado sanduíche na universidade americana. Tampouco a ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, Damares Alves, tem mestrado em "Educação, Direito Constitucional e Direito de Família", como chegou a afirmar. Outro que ampliou seu próprio currículo com inverdades foi o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles. Ele responsabilizou sua assessoria pelo erro grotesco em afirmar várias vezes nos créditos de seus artigos que era mestre em Direito Público pela Universidade Yale. Até o próprio presidente da República pelo twitter tratou de inflar a carreira acadêmica de um novo colaborador: "Comunico a todos a indicação do professor Abraham Weintraub ao cargo de ministro da Educação. Abraham é doutor e professor universitário". O título de doutor não consta do currículo Lattes de Weintraub e nem em seu perfil no LinkedIn. No início do mês mais um colaborador do primeiro escalão do governo foi pego na mentira. O secretário do Tesouro Nacional, Mansueto Almeida, que fez graduação em Economia pela universidade Federal do Ceará, se apresentava em artigos e palestras como mestre pela USP e doutor pelo Massachusetts Institute of Tecnology, nos Estados Unidos. O problema é que nem o mestrado e tampouco o doutorado constam na mais importante Plataforma Lattes do país, a do CNPq. No Google também não existe referência nenhuma aos títulos acadêmicos de Mansueto, mas é possível constatar no site de busca online que o atual secretário do Tesouro sofreu auditoria realizada pelo TCU a pedido do MEC pedindo a devolução da bolsa de 169 mil dólares aos cofres públicos pela tese de doutorado que não foi concluída entre os anos de 1997 e 2001 no Massachusetts Institute. A assessoria do secretário sustenta que a defesa de tese não foi realizada por conta de doença da orientadora. Nesses casos, para não prejudicar o aluno, é praxe na acadêmia a substituição do orientador. Dezoito anos se passaram, e o TCU acaba de perdoar a dívida de Monsueto com a CAPES pelo dinheiro que recebeu para financiar a bolsa que não fez. Mais irônico é que o próprio Capes acaba de sofrer por decisão do MEC um corte de 2,7 mil bolsas de mestrado, doutorado e pós-doutorado. A máxima deste governo é tirar recursos de quem realmente precisa e produz ciência e aliviar as dívidas e multas devidas ao governo por ministros e amigos. E como, segundo o ditado, o exemplo vem de cima, recentemente o próprio presidente teve anistiada uma multa lavrada contra ele pelo IBAMA.