Mais de 60 dias passados e "O Dia do Fogo" continua sem culpados.

24/10/2019

Mais de 60 dias se passaram sem que nenhum envolvido fosse identificado como responsável pelo dia que ficou conhecido como "Dia do Fogo" no Pará, moradores de Novo Progresso nem querem ouvir falar sobre o tema, pois temem represálias segundo eles de pessoas poderosas na cidade fazendeiros, madeireiros e empresários. De acordo com o que já foi apurado nas investigações os responsáveis pela queimada teriam feito até uma vaquinha para a compra do combustível usado, óleo diesel e gasolina e a contratação de motoqueiros que foram responsáveis em espalhar o líquido, o que triplicou os focos na região. De acordo com a "Operação Pacto de Fogo", as primeiras suspeitas recaem sobre Agamenon Menezes presidente do Sindicato dos Produtores Rurais da cidade, que também foi alvo de operação de busca e apreensão da Polícia Federal no dia de ontem (22), foram apreendidos documentos na sede do sindicato e o computador pessoal de Menezes. Outros três mandados foram cumpridos, entretanto a polícia manteve os nomes em sigilo. A polícia também investiga o empresário Ricardo de Nadai, proprietário da loja Agropecuária Sertão. Ele teria sido o criador de um grupo de WhatsApp chamado 'Sertão', com 70 integrantes, onde foram combinados os detalhes sobre o 'Dia do Fogo'. Para a polícia Nadai nega a existência de combinação. De acordo com a investigações os detalhes do "Dia do Fogo" teria sido costurado nesse grupo, mas o início da ação partiu de um grupo ainda maior chamado 'Jornal A Voz da Verdade' com 256 pessoas (lotação máxima permitida pelo aplicativo). Este é o grupo onde figuram gente importante e até autoridades da região. No início de agosto o jornalista, responsável pelo site Folha do Progresso, adecio Piran, divulgou o acordo entre fazendeiros e madeireiros que resultou no 'Dia do Fogo'. Piran foi ameaçado, ficou fora da cidade por dois meses, voltou com proteção policial e retomou as atividades. Entretanto ele declara "Os responsáveis pelo fogo tornaram meu negócio inviável, já que conseguiram pressionar os comerciantes para tirarem os anúncios no meu site". O acordo entre fazendeiros e madeireiros que resultou no 'Dia do Fogo' foi revelado em 5 de agosto pelo jornalista Adécio Piran, do site paraense Folha do Progresso. Após a publicação, Piran ficou fora da cidade por dois meses por conta das ameaças de morte que recebeu. Chegou a contar com proteção policial, mas voltou ao trabalho e dispensou a segurança. "Os responsáveis pelo fogo tornaram meu negócio inviável, já que conseguiram pressionar os comerciantes para tirarem os anúncios no meu site", relata. Os responsáveis pelo fogo também estão conseguindo dificultar as investigações, por conta do bom relacionamento com deputados e senadores do Pará, além de terem interlocução com o alto escalão do governo federal. Seus tentáculos também alcançam Sindicato dos Produtores Rurais de Novo Progresso, que tem influência na Federação da Agricultura e Pecuária do Pará (Faepa), que, por sua vez, é bem articulada com a Frente Parlamentar Agropecuária - a bancada ruralista - uma das mais bem organizadas do Congresso, declara um Policial Federal envolvido na investigação, que por motivos óbvios mantemos seu nome em sigilo. Por fim, de acordo com o procurador Paulo de Tarso Moreira de Oliveira "Dizer que não aconteceu o Dia do Fogo é ignorar claramente as informações dos satélites", afirma Em toda a Amazônia, as queimadas no mês de agosto foram as maiores desde 2010, com aumento de 196% neste ano quando comparado ao mesmo mês de 2018 (31 mil focos em 2019 ante 10 mil em 2018). Criminosa ou acidental, o fato é que as queimadas acontecem e o combate foi negligenciado, mesmo assim o presidente Jair Bolsonaro negou a existência do fogo em seu discurso de abertura no 74° Congresso da ONU, em 24 de setembro: "Ela [Amazônia] não está sendo devastada e nem consumida pelo fogo, como diz mentirosamente a mídia". Porém, dois meses depois do 'Dia do Fogo', o cenário continua desolador no sudoeste do Pará, com trechos imensos de floresta queimados nas estradas de terra que partem da BR-163. Destruição dentro da Flona Jamanxim e da Reserva Biológica Nascentes Serra do Cachimbo, áreas de reserva que, de acordo com a legislação, não permitem atividades econômicas, mas que convivem com criações de gado, extração ilegal de madeira e garimpos clandestinos. Com os mandados de ontem (22) esperamos que culpados sejam identificados e punidos, sem lado, cor ou poder econômico. È utópico mas pode acontecer.