MEMÓRIAS DE UM SARGENTO DE MILÍCIAS

30/06/2019

Professor Marcos Rodrigues-RJ

A prisão de um sargento da aeronáutica, Manoel Silva Rodrigues, na Espanha, supostamente traficando 39 kg de cocaína, em um avião reserva de uma comitiva presidencial, traz mais problemas para o governo Bolsonaro do que apenas um mero caso de uma ação criminosa comum.

Logo após a divulgação da prisão, o governo brasileiro, notificado, não informou o nome e o posto do militar. A imprensa brasileira só tomou conhecimento disto através da polícia espanhola e correspondentes de grandes jornais na Europa. Não fosse isto talvez sequer tomássemos conhecimento da própria prisão.

Imediatamente, algumas autoridades brasileiras trataram de apresentar avaliações menos negativas como "falta de sorte" ou "foi uma ação isolada". O governo brasileiro declarou que não pretende pedir a extradição do sargento.

Iniciaram-se as especulações esperadas. É óbvio que o sargento recebeu ou comprou a droga de alguém. E, também óbvio, a entregaria a alguém na Europa ou na Ásia, que seria o destino final do avião. Por fim, é difícil crer que o sargento tenha entrado com a droga na base aérea da FAB, em Brasília, sem que existisse a cumplicidade de alguém e, analogamente, teria tido ajuda para evitar sistemas de revista e controle para colocar a droga no avião. Então, não se trata de investigar apenas a conduta do sargento mas, de uma possível quadrilha ou organização criminosa.

Uma foto circula na internet onde o sargento estaria almoçando com Flávio Bolsonaro, Fabrício Queiroz e com o próprio Jair Bolsonaro. A aeronáutica estabeleceu sigilo sobre as investigações.

A aeronáutica precisará prestar satisfações à sociedade com muita clareza. Qualquer tentativa de não apresentar fatos ou evidências poderá lançar uma dúvida sobre o caráter de centenas de homens da corporação. Isto também poderia dar a entender que a aeronáutica estaria tentando resguardar figuras importantes da força aérea ou do governo. Nada poderia ser pior para a imagem de correção e seriedade do exército, da marinha e da aeronáutica. O povo não pode perder a confiança nas forças armadas. Os culpados precisam ser trazidos a público e punidos. Não fazê-lo é um crime de lesa pátria.

A maior lealdade que um soldado pode ter não é ao homem que luta ao seu lado no campo de batalha, é ao povo que ele defende!