E AGORA?
Minha foi muito austera na minha criação. Nunca tive uma única festa de aniversário na infância e na adolescência. No máximo aquele bolo feito em casa para cantar o parabéns com minhas irmãs. Nunca tive uma bicicleta. Minha mãe era contra qualquer gasto que não fosse em moradia própria, educação, saúde e um mínimo de dignidade. Era o jeito dela.
Após seis meses deste governo federal, e dois anos e meio do golpe, completa-se uma das tarefas que lhe foram entregues por seus principais apoiadores, a reforma da previdência. Agora, virão a reforma tributária, que favorecerá os principais segmentos dos apoiadores, a reforma administrativa e o pacto federativo. Tudo combinado e acertado. Neste período já tivemos a perda de direitos com a reforma trabalhista, a confirmação da perda do controle do pré-sal, a perda da Embraer, o esvaziamento de nossa participação no BRICS, o favorecimento das relações comerciais com o EUA e um acordo questionável com a União Européia. Perdemos todos os avanços sociais da era Lula. O salário mínimo perdeu poder aquisitivo, o PIB desabou, centenas de empresas fecharam as portas, o consumo interno estagnou e o desemprego alcançou índices intoleráveis. Não existem expectativas de reversão deste quadro a curto prazo. A reforma da previdência era necessária? Talvez. Haveria necessidade de uma auditoria honesta e isenta para que conhecêssemos os reais números. Se houvesse efetivamente a possibilidade de que a previdência se torne deficitária a solução não poderia ser esta que se adotou. Haveria de se determinar quem são os principais devedores da previdência e se adotar uma estratégia agressiva de cobrança. Também quais são os grupos que gozam de isenções e porque. A partir daí seria necessário se estudar outras fontes de renda que pudessem prover a previdência sem o sacrifício dos trabalhadores mais pobres. Não podemos mais conviver com o legislativo mais caro do planeta. Não podemos ter em Brasília apartamentos funcionais com 500 e 600 metros quadrados. Não podemos pagar auxílio moradia a juízes que ganham cinquenta mil reais por mês! E, em pelo menos um caso, se paga ao marido e à esposa que moram na mesma casa! Não podemos conviver com tribunais que possuem mais de cem funcionários! Não podemos conviver com gabinetes que requisitam dezenas de servidores para deputados e senadores! Por que os militares terão o período de escola e academia contados como tempo de trabalho? Por que os policiais federais se aposentarão 12 anos antes dos demais trabalhadores? Onde está a discussão sobre o imposto sobre as grandes fortunas? Onde está o aumento do imposto de renda para vencimentos acima de vinte salários mínimos? Por que não uma distribuição de renda mais justa? Aprendi muito cedo a dar valor a empenho e dedicação. Sei que um trabalhador humilde não suportará trabalhar e se aposentar após décadas de trabalho braçal. O que se está fazendo neste país é criminoso.
Não sou contra a discussão. Sou contra esta reforma!
Colaborador. Professor Marcos Rodrigues - RJ